quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Un uccello in gabbia...



Uma vez fui fazer uma entrevista de emprego, nem me lembro mais o nome da empresa, mas me lembro até hoje das palavras do meu sabio (o molto furbo) interlocutor...
Quando ele descobriu que eu era brasileira, começamos a falar portugues e ele me contou dos anos maravilhosos passados na ilha de Madeira, em companhia de brasileiros fantasticos dos quais sentia muitas saudades...
Sim, ele conhecia muito bem a saudade que eu alimentava...

"Hà quanto tempo voce mora na Italia?"
"Hà um ano e x meses..." (nao me lembro mais...)
"Engraçado, eu também conto até os meses desde que voltei de Madeira...hum..."

Serà que manter um registro preciso do tempo que passa desde que deixamos um lugar significa que no fundo desejamos ardentemente pertencer à ele novamente?
Eu nunca entendi essa ausencia pertinente, esse vazio permanente...talvez por isso ainda nao tenha tido coragem de voltar a pertencer... e a liberdade de vagar é ainda fascinante...
Mas, voltando à entrevista, depois de muita conversa (acho que foi a entrevista mais longa da minha vida) e de momentos de sinceridade exagerada, tipo:

"Por que voce veio para a Italia?"
"Porque adoro viajar, conhecer lugares e pessoas diferentes, queria aprender Italiano e aprender coisas novas, ver o mundo através de uma outra perspectiva..."

Foi o momento do meu interlocutor me conceder o seu veredicto, sendo ou sincero demais ou simplesmente arrumando uma desculpa poética para me descartar:

" Credo che questo non sia il posto ideale per te. Mi sembra di prendere un uccellino in una gabbia." (Acho que talvez esse nao seja o lugar de trabalho ideal para voce. Tenho a sensaçao de prender um passarinho numa gaiola...)

E la fui eu voar em outras entrevistas e repartiçoes e empresas cujos nomes nem me lembro mais...
O destino quis que eu voasse para outras direçoes. Ainda bem. Mas as palavras daquele italiano de alma brasileira ficaram gravadas na minha memoria. Nao que eu nao soubesse. Aquelas palavras sempre viveram em mim, mas nunca haviam sido pronunciadas por ninguém mais até entao.
Enfim, alguns anos ja se passaram desde aquela entrevista e ainda nao me permiti alçar voo...
As vezes porque acho que nao sei voar... as vezes porque tenho medo de cair e me espatifar no chao em milhares de pedaços....mas, acima de tudo, porque nao sei qual direçao tomar...

2 comentários:

Unknown disse...

Acho que sempre qdo estamos num lugar vamos ter esse sentimento sobre o qual nós deixamos. Se voltar, a Itália vai te parecer como o Brasil agora.

=)

Unknown disse...

Achei lindo ! Como em tão pouco tempo ele pode te "resumir " ???