domingo, 26 de abril de 2009

Il Fuori Salone

O Salão do Móvel é a feira mais importante dedicada ao design que acontece em Milão todos os anos. Toda a cidade se transforma, as ruas ganham vida e é como se a primavera se oficializasse durante esse evento. O Salão é interessantíssimo, mas o que mais me comove é o evento paralelo que rola em muitos cantos da cidade, especialmente na zona ao redor de uma rua chamada Via Tortona, chamado Fuori Salone (o "salão paralelo"). A Via Tortona é uma rua estreita, completamente sem graça nem estilo, cheia de enormes galpões, bares, temporary shops e lojas alternativas e pouco acessíveis economicamente. Acontece que durante o Salão do Móvel essa rua se transforma, os galpões, hotéis, lojas e antigas fábricas se transformam em berços de arte, criatividade e inovação. Se encontra de tudo, gente de todos os lugares, de todas as tribos, todos com sede do novo. O mais legal é que 99% dos lugares são abertos a qualquer um, não é preciso pagar para matar a sede. É maravilhoso ver a cidade fervendo, proporcionando novas possibilidades, mostrando novos caminhos de pensar e criar. Pra vocês algumas fotos, frases, perguntas e possibilidades...











O design é também a indústria mais antiga do mundo...






Design tem sabor de possibilidade...




Desenhando a árvore dos nossos sonhos...

Se os Beatles tivessem sido arquitetos, o que teriam construído?







Mensagens nas garrafas...







segunda-feira, 20 de abril de 2009

domingo, 5 de abril de 2009

Promessas ausentes...

Sabrina possui o único KA azul marinho decorado com estrelas brancas em toda Milão. Sabri muito provavelmente possui o único KA azul marinho com estrelas brancas em todo o mundo. Eu adoro passear dentro daquele carro todo amassado, cheio de bichos de pelucia, cheio de sentimentos, de aventuras. Posso ainda ouvir o eco de nossas risadas, consigo sentir o cheiro do suor e da cerveja, consigo ainda sentir o resto das nossas energias, o cansaço misturado à leveza depois de uma noite passada na Alcatraz.
Sabrina sofre de depressão. Mas é algo a mais do que isso. Algo que não consigo entender, mas que respeito. Ela tem que tomar todos os remédios prescritos pelo psiquiatra com muito cuidado, mas sabe que o remédio mais eficaz de sua vida é o amor que nutre pelas pessoas. Sabri é uma poetisa. É apaixonada por Silvia Plath e por Anita, garota pela qual abandonou Fede que, de qualquer forma, continua a ser o homem da sua vida.

Fede é o amor da vida da Sabri, mas não é o momento de ficarem juntos. Acabou de voltar de uma viagem de 2 meses e meio na Índia. Voltou careca e com um sorriso diferente no rosto. Não teve coragem de entrar no Ganges, mas conheceu e viveu muita coisa especial. Comprou uma moto e não é mais vegetariano.

Christian é australiano mas mora na Itália há muitos anos. Trabalhou durante muito tempo como croupier em seu país. Pelo momento ensina inglês em Milão, mas sonha em voltar a trabalhar num Cassino.

Walter é romano, trabalha como comissário de bordo e viveria em Roma se pudesse, mas por Christian vive numa ponte aérea Roma-Milão-e resto do mundo- porque o amor que construiram ao longo desses anos é mais importante do que qualquer barreira tempo-espaço.

Dunia é costa-riquense. É casada há muitos anos com um italiano, vive e trabalha em Milão, mas – como quase todas as estrangeiras que eu conheço que moram nessa cidade – tem dificuldades para aceitar certos comportamentos e modos de pensar. Possui uma coerência e força de caráter que vi em poucas pessoas, vive com os dois pés bem enraizados na terra apesar da vontade imensa de abrir asas e alçar vôo que leio em seu olhar.

Depois de muitos meses eu finalmente encontro Sabri, Fede, Christian, Walter e Dunia. É uma noite especial, nos enchemos de junk food, bebemos cerveja, damos risada e tentamos de qualquer modo demolir o muro que nos protege, tentamos de alguma forma bem sutil escavar nossas almas sem causar traumas ou desconforto. Tentamos de algum modo reafirmar que estaremos sempre por perto, prontos para beber uma cerveja no bar da esquina apesar do cansaço, apesar da superficilidade de nossas rotinas, apesar da dor e do medo.
Depois de muitos meses eu finalmente encontro quase todos os meus amigos. Faltou a Mari, que não pode vir por causa de outros compromissos familiares. Faltou a Yuli, que não pode vir porque agora é mãe e precisa cumprir certas responsabilidades. Faltou a Silvia que agora mora em Savona e não consegue mais voltar todo fim de semana pra Milão. E faltou o Daniele, que se jogou de não sei qual andar e provavelmente não sairá mais do hospital para vir tomar uma cerveja conosco no bar da esquina.
Faltou aquele pelo qual nós decidimos finalmente nos encontrar depois de tantos meses de ausência. Faltou aquele pelo qual eu hoje me condeno mais uma vez por não cultivar as minhas amizades como deveria. Faltou aquele que eu gostaria de ter conhecido melhor, mas faltou tempo, faltou vontade, faltou iniciativa, faltou o destino talvez. Faltou aquele que se jogou da janela e deixou todo mundo sem entender nada. Ficou só o vazio e a cerveja por beber.

Esses não são os mais novos personagens do meu novo romance. São muitos mais complexos do que eu jamais poderia pintá-los. São lindos, profundos, respiram, amam e sofrem como eu. Essa é a vida real. Essa vida que nos prega muitas peças.