quinta-feira, 11 de junho de 2009

2.6

Quando eu nasci a noite era escura e o mundo quase desabava junto com a chuva que caía. È essa a história que me contam meus pais. Nasci no mês de junho, preanunciando a sobriedade e a austeridade do inverno. E foi nesse tom de fim de outono que vivi por muito tempo. Mais atenta às folhas que caem, aos dias que se decompõem na escuridão que aumenta progressivamente, exposta sem nenhuma proteção contra o vento rígido que vem da serra... Eu era noturna. Lunar.
Fazer aniversário na iminência do verão foi uma surpresa durante os primeiros anos de estadia européia. Foi incômodo, estranho. Hoje é familiar e maravilhoso. Meu aniversário cai em um período no qual ainda me surpreendo com a possibilidade de usar sandálias abertas e camisas regatas. Um período no qual o vento não causa dores e não corta a pele. Periodo no qual os dias parecem quase quase eternos e o sol acaricia ainda clemente a pele. Nesse ano eu quero me dar de presente a coragem. Coragem para falar sobre aquilo que eu não gosto com serenidade. Coragem para abandonar certos vícios, certas paixões, certos traumas. Coragem para ser tenaz sem ser dura nem agressiva. Coragem para pedir perdão. Nesse ano eu peço coragem. Para enfrentar quem não entende minh’alma estrangeira, enfrentar meus próprios receios e preconceitos. Coragem para reaprender a sonhar. Coragem para materializar preces, desejos e anseios.